VII Congresso Nacional de Filosofia Contemporânea e III Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise
Organização: PPG em Filosofia, PUC-PR; GT Filosofia e Psicanálise, Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof)
Local: Curitiba (PR)
Data: 10 a 13 de novembro de 2009
Deus, ciência moderna e discurso da universidade
CASTRO, J. C. L.
Resumo: Partindo da teoria dos discursos de Lacan, o trabalho relaciona o advento da ciência moderna a uma mudança de hegemonia, do discurso do senhor para a do discurso da universidade. No sistema aristotélico, Deus, como significante-mestre, ocupava a posição do agente no discurso do senhor, sendo ingrediente essencial da operação da natureza e meio essencial para entender essa operação. Entronizado por Descartes na posição da verdade no discurso da universidade, Deus não tem mais função na ciência enquanto meio para entender a operação da natureza, embora possa continuar a ser, na convicção íntima de muitos cientistas, ingrediente essencial nessa operação. No mundo hierarquizado do cosmos ptolomaico, o Outro era um sistema fechado em torno de uma figura de autoridade: S1 pretendia unificar S2 na linha superior do algoritmo do discurso do senhor. No espaço da ciência moderna, que Koyré caracteriza como infinito e matematizado, o Outro é barrado: S2, na posição do agente no discurso da universidade, não é obturado por S1, posto que este está agora na posição da verdade. S2 representa também o novo estatuto do saber científico: ideias qualitativas, relacionadas a valor, harmonia, perfeição, sentido, dão lugar a ideias quantitativas, ligadas a leis abstratas. Já o lado direito do algoritmo do discurso da universidade capta o mecanismo de produção subjetiva: o esvaziamento das determinações empíricas do sujeito (objeto a na posição do outro) resulta num sujeito esvaziado (S barrado na posição da verdade), o sujeito da ciência. O paralelo com o discurso da universidade não impede que a ciência moderna envolva também outros discursos: a partir do sujeito da ciência, novos paradigmas são criados, via discurso da histeria, e um novo laço social, representado pelo discurso do analista, torna-se possível; além disso, as pretensões unificadoras do discurso do senhor sobrevivem sob roupagens renovadas.
Palavras-chave: Deus, ciência moderna, filosofia da ciência, discurso da universidade, Lacan.
English title: God, modern science and discourse of university
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