CASTRO, J. C. L.
Dos dois corpos do rei à democracia burguesa.
Caderno de resumos do III Encontro Nacional de Pesquisadores em Filosofia e Psicanálise,
Rio de Janeiro e Niterói (RJ),
p. 82-83,
2008.
Resumo: A proposta deste trabalho é analisar a passagem do absolutismo monárquico para a moderna democracia burguesa à luz da teoria dos quatro discursos de Lacan. Com base na concepção dos dois corpos do rei, de Kantorowicz, pretende-se mostrar que o absolutismo monárquico corresponde ao discurso do senhor: como S1, na posição de agente, coincidem a figura, a função e a fonte de autoridade (esta última equivalendo a A não barrado). Com base na concepção do lugar vazio do poder, de Lefort, pretende-se mostrar que a democracia burguesa corresponde ao discurso da universidade: como S2, na posição de agente, aparecem a função de autoridade e a fonte real de autoridade (a sociedade dividida em classes, equivalendo a A barrado); como S1, na posição da verdade, aparecem a figura de autoridade e a fonte suposta de autoridade (a sociedade como totalidade, equivalendo a A não barrado). Sugestões de Kantorowicz, Carl Schmitt e Lacan serão utilizadas para demonstrar como o teatro de Shakespeare (Hamlet, em particular) capta o momento de transição entre os dois discursos em termos políticos. Serão comentados também os processos revolucionários na Inglaterra e na França. A burocracia, caracterizada a partir de Hegel e Weber, e as instituições disciplinares, caracterizada a partir de Foucault, serão mostradas como facetas adicionais do discurso da universidade, na modernidade, que se entrelaçam com a democracia burguesa. Explorando o lado direito de cada discurso, serão analisadas a produção do antigo súdito, nos quadros do discurso do senhor, e – à luz de Žižek e Badiou – a produção do sujeito barrado da moderna democracia (o cidadão abstrato, o “homem” das declarações de direitos), nos quadros do discurso da universidade.
Palavras-chave: absolutismo, democracia, Kantorowicz, Lefort, Lacan.
English title: From the king's two bodies to the bourgeois democracy
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