CASTRO, J. C. L.
Père-version: a função paterna na era do Outro algorítmico.
Carta de São Paulo (impressa),
São Paulo (SP),
a. 25, n. 1,
p. 112-116,
junho de 2018.
Endereço original: https://ebp.org.br/sp/carta-de-sao-paulo-ano-25-no1-jun-2018/
Resumo: Na contemporaneidade, assistimos a uma mutação do simbólico, com a emergência do Outro algorítmico. Há uma pluralização dos significantes-mestres (S1 como essaim, enxame), dos Nomes-do-Pai, das versões do pai (père-versions). Essa multiplicidade mina o caráter absoluto do Outro, de modo que este desaparece enquanto tal – o Outro algorítmico de nossa época é, na verdade, o Outro que não existe. Na configuração simbólica atual, a lei, enunciada de um lugar exterior, transcendente, cede espaço à norma, que tem algo de imanente, variando de acordo com o sujeito e as circunstâncias. Não é difícil constatar isso ao observarmos o exercício da função paterna hoje. Verifica-se cada vez mais uma espécie de democratização das relações familiares, uma tendência à negociação permanente entre pais e filhos, que engendra certos protocolos de comportamento. Aí residem a convergência e a divergência entre a perversion e a père-version: na primeira a lei customizada é fixada escrupulosamente em seus mínimos detalhes, sempre reencenados, enquanto na segunda se trata de um arranjo flexível. O pai que diz “não” e “sim” é substituído agora pelo pai que diz “depende”. Em alguma medida, a autoridade é transferida do enunciador da lei para as normas em si, aparentemente neutras; são elas doravante os parâmetros aos quais o pai e a criança se referem, como as partes equivalentes de um contrato. A proliferação de normas, que povoam e colonizam o domínio da lei, ao mesmo tempo reflete a inconsistência do Outro e serve como semblante para camuflá-la.
Palavras-chave: père-version, perversão, função paterna, simbólico, algoritmos, Lacan.
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English title: Père-version: the paternal function in the age of the algorithmic Other
Abstract: This work presents briefly the transformations of the symbolic order, considering the hegemonic social links in different periods. Against this background, the père-version, as the relativization of the Name-of-the-Father, helps to understand the form which the exercise of the paternal function tends to assume in the era of the algorithmic Other: a flexible customization of the law based on permanent negotiation between parents and children.
Keywords: père-version, perversion, paternal function, symbolic, algorithms, Lacan.
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